"As Mulheres no Castelo" de Jessica Shattuck (opinião)

Ando um pouco atrasada nas opiniões e não há meio de as escrever. É que ler é sempre tão mais apetecível… e os livros atiram-se-me para o colo! 😉  Mas para já, aqui fica mais uma.

Este livro de que agora vos escrevo, “As Mulheres no Castelo” ia escapando ao meu escrutínio. Passei pela capa duas ou três vezes e não me senti cativada. Não sei se do título ou da própria capa… mas faltava ali qualquer coisa. No entanto, veio-me à ideia o ditado, não julgues um livro pela sua capa, e acabei por apostar na sua leitura. E, acreditem, bendita a hora em que o fiz, pois o livro veio preencher um nicho de conhecimento que me faltava.

Já todos nós lemos histórias sobre a Segunda Guerra Mundial, ou que tenham a mesma como pano de fundo, mas nunca apanhei um livro que me contasse sobre a Alemanha do pós-guerra. A Alemanha do Stunde Null (a hora zero) = termo que descreve o ano de 1945 em que aconteceu o quase colapso da nação. A Alemanha então ocupada pelas forças aliadas, que viria a ser organizada e administrada pelas mesmas.

“As Mulheres do Castelo” é uma história baseada em factos verídicos e esse foi um dos fatores que me levou a querer lê-la. A sinopse prometia:

«Marianne von Lingenfels, volta ao castelo abandonado, dos antepassados do marido. Para cumprir a promessa que fez aos corajosos companheiros do marido: encontrar e proteger as suas mulheres no meio das cinzas da derrota da Alemanha nazi.»

A história está extremamente bem contada e a encantadora escrita de Jessica Shattuck conquistou-me logo nos primeiros parágrafos. Mas as personagens, meus amigos, as personagens são maravilhosas. Três mulheres, perfeitamente enquadradas nas épocas que representam - o antes da Guerra, o durante a Guerra e o pós-Guerra. Três mulheres que se revelam tão humanas quanto nós, cheias de falhas, dúvidas e até desespero. Mulheres que foram destituídas de todas as virtudes e certezas, e que por vezes apenas se mantêm de pé por causa dos que lhes chamam mãe. Essas crianças a quem foi roubada a infância e que aos poucos tentam entender o seu papel num país que vai demorar algum tempo a reerguer-se e no qual elas próprias vão ter um papel fundamental.

 
Já li imensos livros sobre o Holocausto e a Segunda Guerra, mas nenhum deles conseguiu responder, nem em parte, à pergunta que todos já nos colocámos: como foi possível um povo deixar-se levar pela loucura de um homem? Pois Jessica Shattuck conseguiu-o, a meu ver. Ao terminar a leitura deste livro senti que essa pergunta foi de alguma forma respondida. Não existindo nenhuma tentativa de desculpabilização, o povo alemão é-nos apresentado como um povo que foi conquistado com falsas promessas, levado a acreditar no que queriam que ele acreditasse e mesmo quando a verdade lhe entrava casa a dentro, desviava o olhar. Um povo que mais tarde, mesmo ao seu confrontado com imagens dos campos de concentração se recusava a acreditar que aquilo tinha acontecido e cria ser apenas propaganda dos vencedores.


Ao fim e ao cabo é disso que trata “As Mulheres no Castelo” – a forma como um conjunto de indivíduos conseguiu aceitar a culpa e a responsabilidade do horror que aconteceu e simultaneamente seguir em frente. Cada um com a sua história, com os seus traumas e a sua redenção.
Se acham que já leram todos os livros sobre a Segunda Guerra Mundial, acreditem, têm espaço para mais este. As Mulheres no Castelo deveria ser uma leitura obrigatória para que nunca se esquecesse como é fácil abusar do poder em prol do mal.

Um livro absolutamente extraordinário!
Em www.bertrand.pt

O clube de leitura do meu coração.

 
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