"O Regresso da Primavera" de Sveva Casati Modignani (opinião)

Uma vez mais não resisti a ler esta autora que acarinho há já alguns anos, se bem que ultimamente os livros dela me tenham sabido a pouco. E julgo ter finalmente percebido o porquê. Passo a explicar, Sveva Casati Modignani era o pseudónimo para uma dupla que escreveu durante muitos anos histórias maravilhosas, com conteúdos interessantíssimos sempre vocacionados para o fascinante universo feminino. Essa dupla era composta por marido e mulher, Nullo Cantaroni e Bice Cairati. Entretanto, em 2004 Nullo faleceu, mas Bice, que sempre deu a cara como Sveva, continuou a escrever.  Por vezes quer-me parecer que sinto a falta daquele equilíbrio entre o masculino e o feminino dos primeiros livros que li, mas na realidade, ela continua a ser a rainha do romance italiano e, como um vício antigo, a reconquistar-me a cada novo livro que publica.

"O Regresso da Primavera" foi um livro que me soube bem ler. Foi quase como voltar a casa e calçar os chinelos que já têm a forma do nosso pé. Descomplicado, com uma história fluída e bem organizada, contempla alguns saltos temporais para nos contar sobre a juventude dos principais protagonistas, o que, como é hábito nesta autora, faz-nos sentir que estamos a ler histórias dentro de histórias, que nos ajudam a compreender melhor o enredo mais atual.

Fiamma e Lorenzo, as duas personagens principais, movimentam-se em mundos muito interessantes, a Cultura (mais especificamente a edição de livros, já que Fiamma é diretora editorial numa pequena editora) e a Educação (Lorenzo é professor de Geografia Económica numa escola profissional). Este é o mote para a imagem de fundo que acompanha a história de amor destes dois - uma Itália, a braços com uma crise económica que afeta todos os ramos da sociedade, entre eles a Educação, e por outro lado o drama das pequenas empresas que são aglutinadas por grandes grupos económicos, os quais, na maioria das vezes, apenas contemplam um objetivo, fazer dinheiro, relevando para segundo plano tudo o resto.


Gostava de ver os temas de fundo um pouco mais desenvolvidos, mas deu para captar a essência da Itália dos nossos dias, com os seus problemas e as suas fraquezas na área da Educação e da Cultura. Simultaneamente, também senti a história entre os dois protagonistas demasiado morna… parece-me que lhe falta fogo, emoção. Será que Sveva está a perder o fôlego? Tirem as vossas dúvidas ao ler este livro e partilhem-nas comigo. Uma coisa é certa, Sveva há-de continuar a ser para mim um bom velho vício.
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