"A Rainha Santa" de Isabel Machado (opinião)

Existem personagens na História de Portugal que deixaram a sua marca. Isabel de Aragão foi uma delas. Ainda hoje se ouvem os ecos da sua voz nas lendas do povo português. 

A Rainha Santa e o Milagre das Rosas é uma história que todos nós conhecemos. Quem não se lembra da sua cândida resposta ao Rei D. Dinis, seu esposo, quando indagada sobre o que levaria no regaço ao sair do paço:
«São rosas, Senhor!»
E desconfiado, D. Dinis retroquiu: «Rosas, em Janeiro?»
D. Isabel expôs então o conteúdo do regaço do seu vestido e nele havia rosas, ao invés dos pães que ocultara.

Das aulas de História ficou-me na memória esta lenda, bem como a recordação desta  Rainha Santa como uma rainha muito devota e piedosa, que mais tarde foi canonizada. Por diversas razões, esta, foi uma leitura muito feliz. Adorei descobrir a mulher por trás da lenda, a dona do coração de D. Dinis, o quinto rei de Portugal.


Conhecemos Isabel desde tenra idade, dando os primeiros passos na corte de Aragão, e acompanhamo-la na sua viagem, aos 11 anos, rumo a Portugal para se juntar a D. Dinis. Quase que posso dizer que mais do que a história de uma Rainha, este livro conta-nos a história de um amor. Um amor altruísta, sofrido, leal... o amor de uma rainha pelo seu rei. Um amor e uma humildade tal que a levaram a aceitar os filhos bastardos do rei e a criá-los como seus. Quantas mulheres fariam isso? Ao longo de 446 maravilhosas páginas, acompanhamos o dia-a-dia de Isabel na corte e as interações com os seus súbditos portugueses, que lhe conquistaram igualmente o coração.


Mas Isabel, a autora, quis também que ficássemos a conhecer um pouco melhor este rei que arrebatou o coração à princesa aragonesa, D. Dinis. Dele ficaram para a História os cognomes de O Lavrador e O Poeta. Foi um rei que dedicou grande parte do seu reinado ao despertar em Portugal da consciência de estado-nação, levando a cabo importantes reformas judiciais, e instituindo a língua portuguesa como língua oficial da corte. Criou também a primeira Universidade portuguesa, e no intervalo das guerras civis que teve com o seu irmão e mais tarde com o seu filho levou a cabo importantes ações de fomento económico (como a criação de concelhos e feiras). Foi  igualmente um grande amante das artes e das letras, cultivando as famosas Cantigas e Amigo e Cantigas de Amor, que ainda hoje se estudam nas nossas escolas. 


Este é sem dúvida um livro extremamente completo, escrito de forma maravilhosa, que nos embala e seduz à medida que nos revela um Portugal nos finais do século XII, início do século XIV.
Adorei. Simplesmente adorei ler este livro. Isabel Machado é uma autora que ainda não conhecia mas que agora quero conhecer melhor. A História pela sua mão é-nos mais próxima ao coração. 
O meu bem haja a esta autora.
Em www.bertrand.pt

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