"Café Amargo" de Simonetta Agnello Hornby (opinião)


Tal como um belo mural, um fresco (afresco) pintado na parede de uma antiga igreja, apreciei este livro contemplando serenamente a sua beleza e a história que encerra. Pedaços da história de Itália, mais propriamente da Sicília, que se entrelaçam com a história de duas famílias - Marra e Sala.

Maria, uma jovem de muitas virtudes, filha única de pais pouco convencionais para a época, sente-se dividida entre casar ou seguir a sua paixão pela música e pelo ensino. O sentimento de responsabilidade familiar no entanto impele-a no sentido da primeira opção e Maria acaba por casar com Pietro, herdeiro da família Sala, que irá suprir todas as suas necessidades monetárias. Estamos em finais do século XIX, altura em que as mulheres ainda não têm direito ao voto, e começam a aparecer os primeiros carros nas estradas de pó, até então dedicadas às carruagens. 
E assim se inicia a história de Maria, da sua família, do seu casamento e da sua amizade com Giosuè, jovem que o seu pai acolheu aos seis anos a pedido do falecido amigo de longa data.

É extraordinário acompanhar a evolução de Maria. Se inicialmente parecia ser uma jovenzinha débil e submissa, rapidamente aprende a reconhecer as suas forças e fraquezas e a utilizá-las da melhor forma para conseguir guiar a sua família através das águas turvas que se avizinham. Os problemas de jogo do marido, o constante ódio das cunhadas, uma Itália que se afunda na Primeira Guerra Mundial, as leis raciais que afetam alguns membros da sua família e amigos, os bombardeamentos e a destruição...

A escrita magistral de Simonetta Agnello Hornby transporta o leitor para uma época de grandes transformações. Um relato soberbo sob o ponto de vista feminino, tendo como narradora uma personagem principal maravilhosa, plena de força e humildade que nos conquista logo após as primeiras linhas.
Adorei. Simplesmente adorei.

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